Parece-me que a vida
É como apanhar as amoras silvestres da minha infância
Abro em mim
A imagem da recordação
Para verificar
Se sim ou não
Tem sentido
Uma tal comparação:
Vejo-me, menina
Lá vou eu,
De pé descalço
Devagarinho
Pé ante pé
A fazer de conta
Que não sinto
O picar das silvas
As minhas mãos
A ziguezaguear entre os picos
Como se estes fossem de algodão
Tal é a obsessão
Do gosto da amora madura
A derreter-se na minha boca
Afinal, tem sentido sim...
Diria mesmo que a vida é uma silva cheia de amoras!
(Carmen Cupido in "Corpo do Poema"