segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Os meus poemas

Os meus poemas
São dores
Paridas
No silêncio
Das palavras
Que arranco
Do ventre!

(Carmen Cupido, Intro de "Corpo do Poema")

Corpo do Poema

(Body painting by Emma Hack)

Vou, inteira, no corpo do poema
Escrever-te, ao ouvido,
Os murmúrios desinquietos
Dos sonhos e sentimentos
Que ecoam aos quatro ventos
Desta rosa machucada que me sou

Gravei-me na pele; do corpo do poema
Para que me possas ler com os teus dedos
E tocar, mesmo quando eu não estou
As metáforas da minha dor
Obedientemente alinhadas no fonema

Tacteia os meus medos;
Mas não te queimes nos sóis cadentes
Que já caíram no mar do meu peito; onde encerro os segredos
Que só a fina pluma dos tantos poentes
Que me deixaste na cova da mão
Pode, alto, insinuar baixinho
A atrevida intenção
De te morder o coração
Pela ponta dos teus lábios!

(Carmen Cupido in "Corpo do Poema")

Corpo Casulo

(Foto de Darren Holmes)


Arrancar-se
Ao corpo Casulo
Cativeiro do Eu
Atiçando o Ser
Que, à força de não ser
Rasteja como uma lagarta
Pela linha dos tempos mortos
Pendurando-se nas virgulas
Que travam o impulso da vontade

Há que despertar
A coragem da evasão
Que dorme raquítica
No colo nebuloso dos medos
Retorcer os fios de quem se é no fundo
E saltar para o mundo...

Do alto do parapeito da ravina da vida!

(Carmen Cupido in "Corpo do Poema")

Escolhi

(Stair way to heaven Foto de Tânia Flores olhares.com)


Escolhi...

Fazer da negridão que levo dentro
A tinta com que me escrevo

Escolhi...

Dar armas e voz aos barulhos da alma
Para que esta vença o peso que pesa no peito

Escolhi...

Desenhar, ao sonho, um escadote de papel
Para que trepe, um a um, os degraus do esquecimento

Escolhi...

Esticar o horizonte pelas quatro pontas
Pintando paisagens no interior dos olhos

Escolhi...

Imortalizar o momento, o sentimento, o pensamento
Acamando a palavra no sarcófago do poema

(Carmen Cupido in "Corpo do Poema")